sábado, 26 de fevereiro de 2011


O sonho da industrialização em Feira de Santana

Feira de Santana é uma das cidades que mais se destaca no interior da Bahia, desfrutando de uma localização privilegiada, de um comércio que já é parte integrante de sua história e contando com um contingente demográfico considerável em relação aos municípios circunvizinhos.

A instalação de um centro industrial ocorrida em 1970, significou o início de novos tempos, o começo de uma nova fase não mais calcada no comércio, setor mais importante da cidade responsável por boa parte do seu desenvolvimento econômico. A partir do CIS- Centro Industrial do Subaé, acreditava-se que a expansão econômica do município seria assegurada pela industrialização. Ao lado dessa expansão supostamente impulsionada pela indústria, assistimos à difusão de um ideário desenvolvimentista que finca raízes na cidade por mais de uma década.

A ideologia desenvolvimentista nos moldes cepalinos foi abraçada no Brasil a partir do governo de Juscelino Kubischek. Nos anos 50 e 60, o discurso da superação das desigualdades regionais, tendo o Nordeste como um dos seus maiores catalisadores, fez com que essa ideologia fosse transplantada para os marcos de uma região. Na Bahia, a instalação dos centros industriais na capital, contribuiu para que o crescimento do setor secundário fosse preconizado como agente central da redução das disparidades.

Apesar do final dos anos 60 assinalar uma nova fase de expansão econômica no país, resultado de uma divisão inter-regional do trabalho, na qual as regiões brasileiras teriam que se especializar em função da expansão capitalista, o desenvolvimentismo permaneceu influenciando os principais estados do Nordeste que se inseriram nessa expansão econômica por meio da especialização de determinados bens industrializados. Feira de Santana, o mais importante pólo de desenvolvimento do interior baiano, dentro desse contexto, sofreu a influência de todo esse ideário desenvolvimentista a partir da instalação de seu centro industrial em 1970.

O desemprego, principal problema enfrentado pela cidade, se constituía em um das maiores justificativas para a implantação do CIS, principalmente depois que o seu Plano Diretor divulgou uma demanda total de 71.264 empregos (incluindo o total de empregos diretos e indiretos). Em 1970, foram constantes as manchetes que faziam alusão à relação direta entre indústria e emprego.

É preciso, contudo, que a comunidade feirense tome consciência do que representa a industrialização para o desenvolvimento econômico de sua cidade e mesmo de sua região. Se o Subaé conseguir se firmar e disso já não se tem dúvida ninguém pode imaginar os benefícios que tal fato proporcionará a uma extensa faixa da população que hoje se debate com um grande problema de desemprego. Essa é uma conquista que temos que defender acima de todas as paixões, pois a continuação do progresso da nossa terra perpassa principalmente na opção que fizemos pela industrialização.

A partir de 1970, a idéia de progresso juntamente com as concepções de modernidade e civilização adquirem uma conotação, sobretudo econômica, estando associadas intrinsecamente com a expansão industrial que ora estava atravessando a cidade. Sendo assim, Feira de Santana era uma cidade moderna, civilizada e progressista por ser possuidora de um centro industrial, transformado em panacéia, responsável pelo ingresso da cidade na trajetória de um desenvolvimento seguro e estável.

A partir do CIS, se desenvolveriam todos os demais setores da economia; em função dele a vida urbana seria dinamizada, a produção seria mais racionalizada, a renda local teria condições favoráveis de aumentar, os índices de desemprego e desqualificação profissional seriam minimizados, num movimento mecânico que se seguiria a implantação das fábricas, gerando, assim, em toda comunidade grandes expectativas pelas possibilidades de minar boa parte dos principais problemas sociais existentes na cidade. A difusão dessas idéias foram responsáveis pela universalização dos interesses de um pequeno grupo cujos objetivos restritos são assegurados e transformados em um objetivo coletivo, uma aspiração popular de todos os feirenses em favor do seu próprio bem-estar.

No seu sentido íntegro indústria é arte, é invensão, é astúcia, é um ramo da atividade humana, é a únião de duas coisas importantes : capital e trabalho. È a aplicação dos métodos científicos de transformação de matérias simples em produtos acabados, destinados ao consumo da massa populacional proporcionando divisas e o enriquecimento geral do país. Indústria não é simplesmente máquina destinada ao enriquecimento de um pequeno grupo, o grupo capitalista dirigente, e sim, tudo aquilo que foi dito.

Essa cidade vocacionada à indústria não poderia mais viver em função do comércio nem conviver com uma feira livre, esses dois representantes do arcaísmo da cidade deveriam ter sua importância diminuída, não podendo mais se sobrepor à atmosfera civilizadora que se disseminava por todo espaço urbano.


Referências

CANO, Wilson. Desequilíbrios Regionais no Brasil: alguns problemas controversos. In: MARANHÃO, Silva. A Questão Nordeste: estudos sobre a formação histórica, desenvolvimento e processos políticos e ideológicos. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1984.

FRIORI, José Luís. Em busca do dissenso perdido: ensaios críticos sobre a festejada crise do Estado. Rio de Janeiro: Insight, 1995. p. 98.

Integração Social. Jornal Feira Hoje, Feira de Santana, 05 mai. 1981.

Jornal Feira Hoje, Feira de Santana, 17 dez. 1970.

OLIVEIRA, Francisco. Elegia para uma Re(li)gião. Sudene, Nordeste. Planejamento e conflito de classe. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

SANTOS, Alane Carvalho. A integração de Feira de Santana no processo de industrialização baiana: O Centro Industrial do Subaé. In: Feira de Santana nos tempos da modernidade: o sonho da industrialização. Salvador; UFBA, 2002.

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